Sociolinguística

 


 A Sociolinguística é a área que estuda as formas como os falantes utilizam sua língua –  trata a língua como fenômeno social. Sabe-se que a fala é individual, diferente da escrita, que deve respeitar um modelo. Cada falante tem a sua própria forma de comunicar-se oralmente, através de gírias, sotaques, neologismos e outras formas que nem sempre estão presentes no dicionário.

Sabe-se, também, que a língua varia de acordo com a sociedade que a utiliza, ou seja, de acordo com a necessidade dos falantes. Logo, se muitos indivíduos passam a utilizar uma forma ou expressão, ela pode tornar-se legítima, oficializada pela gramática. A sociedade pode também mudar o sentido de palavras e expressões, com o tempo e com o uso, mas para isso é necessário que haja a variação.

Existem, na língua, vários critérios que fazem com que ela seja usada de formas diferentes, dependendo de classe social, gênero, região, faixa etária etc. Sabemos, por exemplo, identificar as diferenças entre a forma de falar feminina e masculina. Geralmente, os homens utilizam-se mais de gírias, enquanto as mulheres são mais tradicionais ao falar. É claro, dependendo da faixa etária. Uma adolescente, provavelmente, vai usar muito mais gírias do que sua mãe ou sua avó. O mesmo acontece com o homem.

Através dessas variações, podemos perceber também se o falante pertence ao estado do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul ou São Paulo, através de suas formas de falar características.

Muitas vezes, isso acaba gerando certo desconforto por parte de alguns falantes. Algumas pessoas são discriminadas por falarem de maneiras ‘diferentes’ de como estamos acostumados. Por exemplo, se um indivíduo que mora no interior de São Paulo for para o Rio de Janeiro, pode ser vítima de discriminação por parte dos cariocas. Assim como a pessoa que possui um nivel de escolaridade baixo pode sofrer preconceitos por um graduado e etc. Por outro lado, todos os usuários da Língua Portuguesa poderão se compreender normalmente, seja no Norte, Sul, ou Centro-Oeste do país, pois o que ocorre nesse caso é apenas uma variação da língua, nada que impossibilite a compreensão ou a comunicação entre indivíduos de diferentes regiões do país.

É importante saber que a lingüística não diferencia o homem através da forma como se utiliza da língua. E, para ela, não há língua correta ou errada. Nenhuma língua é melhor ou pior, seja ela complexa ou simples de ser apreendida. Elas não são comparáveis, não competem entre si.

O linguajar utilizado no Rio de Janeiro é considerado o mais distante dos utilizados em outras regiões, pois possui menos traços característicos. O fato de ser sempre o cenário das histórias de Machado de Assis é algo que prova que o Rio de Janeiro é ‘privilegiado’ em termos geográficos, políticos e até mesmo linguísticos. É como uma ‘língua  modelo’ do país. Isso ocorre devido à grande ‘miscigenação’ encontrada na cidade, ou seja, as múltiplas culturas, os costumes de outras regiões que foram trazidos a essa grande cidade. Inclusive, apesar de a cidade possuir altos índices de semi e analfabetismo, principalmente nas áreas suburbanas, vale ressaltar que a escolaridade na cidade está acima da média nacional, ocupando, então, a menor taxa de analfabetismo, entre as 12 maiores capitais do país.

Tomando, agora, como base o falar carioca, realizarei uma análise dos falares das regiões Sul, Norte e Sudeste – Rio Grande do Sul, Acre, Minas Gerais e Campos dos Goytacazes. Através de pequenas entrevistas com pessoas naturalizadas nos estados citados, pude perceber que não há dificuldade de compreensão ou estabelecimento de comunicação – exceto por algumas expressões características as quais não temos o costume de ouvir frequentemente.

Entrevistando um acreano, percebi que, no seu falar, havia traços do falar nordestino. Segundo ele, o estado não possui uma forma característica no falar, como sotaques, gírias e expressões, mas utilizam-se de certas formas nordestinas de falar, mais aproximado do que poderíamos chamar de ‘caipira’.

O mesmo ocorre em Minas Gerais e Campos. É uma fala bem diferente do que costumamos ouvir no Rio de Janeiro. A entrevistada de Minas chegou a citar exemplos como “meio fio”, que é dito pelos falantes da região como “mei fi” e etc. Já em Campos, ouvimos o falante utilizar ‘de’ ao invés de ‘do/da’, ou se referir a algo ou alguém. Por exemplo: “Fui pra casa de Joana”, “Comprei o presente de João”. Outro traço característico é o S mais puxado (como em ‘assim’ ‘sai’), principalmente no fim das frases. Ou seja, também percebemos uma forma mais ‘interiorizada’ de falar, nesses dois estados.

Já no Rio Grande do Sul, há inúmeras formas marcantes e características da região. Além das expressões ‘bah’ e tchê’, que são bem conhecidas, é interessantíssimo perceber como o falar gaúcho se difere dos demais, citados anteriormente. Pois são sotaques e gírias praticamente inconfundíveis ao ouvido dos demais falantes. Assim como o nordestino, podemos identificar o sulista sem muito esforço.    

É interessante ressaltar, também, que esses falares analisados não variam de idade, sexo ou condição social. Para quem observa, todo sulista fala da mesma forma, assim como o mineiro e o campista. O que é diferente para nós é perfeitamente comum para eles. É difícil, então, comparar o falar de um gaúcho de 70 anos com um de 15.

Não há dúvidas de que as mulheres e os homens falam de formas distintas. Há estudos que defendem a tese de que as mulheres estavam mais aptas às inovações, aceitavam-nas com mais naturalidade, já outros dizem o contrário: as mulheres possuíam traços mais ‘conservadores’ na fala, mas utilizavam-se de neologismos. Logo, podemos concluir que a geografia determina o tipo de falar de homens e mulheres. Na cidade, ela é mais propícia às mudanças, já no meio rural, ocorre o contrário.

Com isso, conclui-se que a língua é utilizada de várias formas, de acordo com aspectos geográficos, econômicos e sociais do país, mas isso torna impossível a compreensão entre os indivíduos de diferentes classes, faixas etárias ou regiões. Cada falante utiliza a língua da sua própria forma, de acordo com suas necessidades e costumes, portanto, não há por que julgar, criticar ou comparar diversos falares, uma vez que são pertencentes a mesma língua.